Ultimamente tenho estudado as Dividends Aristocrats americanas. Tenho tentado aplicar os conceitos deste grupo de ações às ações brasileiras. Portanto, venho buscando as Aristocratas Brasileiras.
CARACTERÍSTICAS DAS DIVIDENDS ARISTOCRATS
As Dividends Aristocrats são ações americanas (stocks) que distribuem dividendos crescentes há pelo menos 25 anos.
Com esta única característica percebe-se que estas empresas devem ser de boa qualidade, pois ultrapassaram várias crises e ainda distribuíram dividendos maiores durante estas crises.
Com relação à qualidade das empresas tenho visto que os americanos têm menos quantidade de critérios para a escolha das ações. Mas as ações que passam nestes critérios são realmente boas. Fiz o teste com algumas brasileiras consideradas boas e elas não passaram nos critérios americanos. Ao contrário, se eu aplicar meus critérios de boas ações para as stocks, essas passam bem melhor e mais tranquilo, praticamente com nota 10.
Outra característica das Dividends Aristocrats é a distribuição regular de dividendos. Isto significa que distribuem que nem reloginho. Se o leitor entrar neste SITE verá a distribuição dos dividendos desses grupos de ações. Digite a Johnson & Johnson (JNJ) e você verá que ela distribui regularmente durante anos nos meses 3, 6, 9 e 12 e o mesmo valor.
Outra característica é o aumento anual na distribuição de dividendos. Novamente se você verificar a JNJ verá que todo ano ela aumenta o valor absoluto dos dividendos distribuídos. Veja ainda que nos últimos 10 anos ela tem aumentado pelo menos 5% a.a. nos dividendos distribuídos.
Portanto, as características principais são: dividendos constantes, crescentes, regulares e de pelo menos 25 anos.
ARISTROCRATAS BRASILEIRAS ?!?!?!
Agora vamos tentar aplicar estas características nas ações brasileiras.
A primeira dificuldade que encontrei foi a falta de uma base de dados confiável e consistente. Não encontrei nenhum site que tenha os dividendos ajustados. Isto porque ocorreram bastante desdobramentos e agrupamentos nas ações brasileiras.
Sendo assim, tive que fazer um processo manual. Entrei no site de cada empresa que eu queria, via se tinha algum evento especial e sua data. Daí ajustava todos os dividendos para trás daquela data.
Fiz este procedimento para um grupo seleto de ações. E ainda fiz somente para os últimos 5 anos (2015 a 2019). Talvez num futuro eu amplie este estudo. Não foi interessante prolongar porque realmente no espaço de 5 anos já foram raras as empresas que conseguiram atingir o objetivo.
Selecionei as empresas com a planilha de indicadores fundamentalistas que disponibilizei neste LINK. Selecionadas as empresas, teoricamente como boas empresas, entrei no site de cada uma, anotei todos os dividendos pagos nos anos analisados e os ajustei quando necessário.
A partir daí verifiquei quantos anos (dentre os 5 anos disponíveis) cada empresa pagou algum dividendo. Também verifiquei quantos destes anos os dividendos foram crescentes.
Numa amostra de 61 empresas, apenas 3 delas conseguiram pagar dividendos por 5 anos de forma crescente: ITUB, SEER, SAPR.
Outras 5 empresas conseguiram distribuir por 4 anos de forma crescente: BRSR, VIVT, SANB, BBAS, B3SA.
Logo, não podemos considerar que as empresas brasileiras consigam, neste momento, serem comparadas às Aristocrats americanas. Estas 8 empresas tendem a distribuir de forma consistente e crescente. A maioria delas é do setor financeiro, tendo uma de telefonia, outra de educação e uma saneamento.
Outro estudo que fiz foi a média anual de distribuição das 61 empresas apresentadas. Se levarmos em consideração o preço atual das ações teremos um yield esperado no longo prazo, se continuarem a pagar pelo menos o que pagaram para trás. Claro, é apenas uma expectativa.
Outra coisa importante de se notar é a falta de regularidade da maioria das empresas. Apesar de ser possível montar uma tabela de pagamento dos dividendos, não podemos fazer algo exato como é nos Estados Unidos. Seria importante as empresas brasileiras distribuírem de forma regular, já fazem aqui no Brasil os Fundos Imobiliários.
DIVIDEND INVESTING
Nos Estados Unidos é bem comum o dividend investing. É uma variação da estratégia buy and hold, onde o investidor seleciona as empresas, dentre outros critérios, pelos seus dividendos distribuídos. Neste caso, o investidor não se interessa por empresas que não distribuem dividendos.
Entretanto, é bem comum os investidores de dividend investing fazerem o value investing também. Este investidor combina duas estratégias objetivando um melhor retorno para seus investimentos. Basicamente, o value investor se propõe a comprar ações baratas.
Sendo assim, o investidor foca em empresas boas (QUALITY) que pagam dividendos (DIVIDEND) e que estejam a preços considerados atrativos (VALUE).
Para o value investing existem várias técnicas. No Brasil é amplamente difundido o Fluxo de Caixa Descontado). Nos Estados Unidos, o FCD não é a corrente majoritária justamente por existirem vários fatores subjetivos em seus cálculos. Nos EUA, o pessoal gosta bastante de alguns indicadores: EV/EBITDA, PES, PSR, P/FCL e DY%.
Apesar de ainda não ser adepto do value investing, eu tenho feito algo inconscientemente. Nos Fundos Imobiliários eu já comprava apenas quando o dividend yield estava dentro do meu mínimo exigido (claro que a característica QUALITY é sempre primordial). Entretanto, para os FIIs este retorno é mais previsível e estável. Tem Fundos como o HGLG11 que pagam os 0,78 mensalmente há tempos, e foi apenas esperar ele chegar a preços atrativos que acabei encarteirando-o.
Recentemente, passei a considerar que as ações também deveriam me retornar um mínimo anualmente, já que meu projeto de 20 anos de investimento é de ter renda passiva, e não ter um patrimônio enorme. Não me adianta ter um patrimônio que oscile anualmente. Me adianta ter uma renda passiva crescente, inclusive em períodos de queda no preço das ações. Esta decisão é proveniente de muita leitura de artigos estrangeiros em que o investimento nas dividend aristocrats é superior ao Índice SP500.
Portanto, meu foco atual é o investimento em ações que paguem dividendos a retornos que considero interessantes. Minha carteira já tinha várias dessas ações. Entretanto, cortarei o reinvestimento naquelas que pagam menos que 3% a.a.
Também estou considerando aportar nas stocks americanas devido à regularidade e previsibilidade de seus dividendos. A grande dúvida que paira ainda para mim é a segurança, liquidez e custos de investimentos nos EUA. Nada que um estudo mais aprofundado não resolva.
Já que o investimento é para 20 anos, não terei problemas de custos para regate. Os dividendos seriam reinvestidos lá mesmo. Existe corretora que não cobra corretagem já. Só que tem as taxas de envio do dinheiro, a conversão real/dólar. Com R$ 5.000 eu compro bastante coisa aqui no Brasil. Mas este mesmo valor, convertido em dólar dá menos de U$ 1.000. E tem ações como a Coca-Cola (KO) que custa mais de U$ 100. Ou seja, seria compra de migalhas de unidades considerando altos aportes para mim.
Desta forma, o Dividend Investing é uma estratégia que estou considerando interessante. A escolha de empresas de qualidade já estava definido pelo meu Método. A inclusão da característica de pagamento de dividendos foi apenas mais um fator adicional que tive que incluir nas minhas análises. Juntando agora com a exigência de um percentual mínimo de previsibilidade de retorno eu estou formando a tríade americana do dividend investing (QUALITY, DIVIDEND, VALUE – QDV).
CONCLUSÃO
Neste post tentei mostrar que as ações brasileiras que pagam dividendos ainda não tem as características das grandes empresas americanas pagadoras de dividendos. Mostrei também a estratégia de dividend investing utilizada pelos americanos.
Gostaria de deixar claro também que respeito as outras estratégias de investimento em ações: trade, trade de valor, value investing puro, buy and hold clássico, etc. Particularmente mudei de buy and hold clássico para dividend investing. Creio que esta estratégia se adapta melhor ao meu perfil.
Gosto sempre de relembrar, ao final de cada postagem, que as ações aqui divulgadas não são recomendações de compras. Elas fazem parte de um Método Didático de escolha de ações e Planejamento de Investimento visando a construção de uma Carteira Previdenciária.
Cada investidor deve se apropriar do conhecimento em si e aplicá-lo à sua própria estratégia que será definida e aperfeiçoada ao longo de sua caminhada financeira durante a vida inteira.
Estou agora a conhecer o seu blog. Achei muito interessante.
Meu método de investimento é bem parecido com o Luiz Barsi, é de Dividend Investing. Como Luiz Barsi já tem empresas como o Banco do Brasil com 50 anos na carteira então podíamos a quase considerar um Buy and Hold com foco em Dividend investing.
Gosto de comprar boas empresas (Quality) boas pagadoras de dividendos (Dividend Investing) a bons preços (Value Investing) e ficar com elas de 5 a 20 anos (Buy and hold). Então eu chamo Buy and hold com foco em dividendos e a bons preços.
Também tenho um blog e um canal no Youtube com o mesmo nome chamado Dinheiro Investimento e Lazer onde falo sobre a estratégia de dividendos com boas empresas.
Abraço e bons investimentos.
Ae, bem vindo ao Blog.
Então temos algo em comum: o dividend investing.
Com certeza irei visitar seus canais e aprender com você também. Quanto mais informação, melhor!
O Barsi ainda investe em umas empresas que não se encaixam nos meus critérios (KLBN, UNIP, ETER). Um dia vou entender o racional dele. Aliás, até entendo. Tem muita gente (como ele) que enxerga por trás dos números. Eu sou meio míope e só consigo enxergar algo palpável, sem subjetivismos.
Muito obrigado por conhecer meu blog e meu canal do Youtube.
Bom acho que conheço esses três casos.
A Klabin ela tem um forte lucro operacional (EBIT) e forte EBITDA que cresce praticamente todos os anos e o seu FCO também cresce todos os anos. Como ela é uma empresa cíclica, o seu lucro líquido varia muito, mas ela não paga dividendos do lucro líquido. Ela paga dividendos de dividendos de acordo com o seu EBITDA e Fluxo de Caixa Operacional, então paga dividendos regulares e crescentes, o que faz uma boa opção para dividendos. Ela também tem vantagem competitivas no setor do papel e celulose. O seu preço e lucro líquido depende do dólar e preço da celulose.
A UNIP ele comprou quando estava a muito menos do que 10 reais (não sei o preço ao certo de compra, acho que comprou a uns 4 reias), o Yield on Cost dele (dividendos dividir pelo preço pago) está muito alto. Está é uma daquelas empresas que ela compra quando ainda ninguém fala delas, quando estão com preços muito baixos, para médio/longo, espera os lucros e os dividendos subirem, quando elas sobem de preço, ele deixa de as comprar e só as mantém na carteira, para recebem um alto yeild on cost. Esta empresa tem vantagens competitivas. O seu lucro também varia muito. Ele mesmo já falou que só volta a compra quando o seu preço cair muito e ficar com Dividend Yield relativamente alto.
A ETER era no passado uma das melhores empresas de dividendos com Dividend Yield muito alto. Acho que ele recebeu em dividendos (somando todos os dividendos que recebeu) mais do que o valor pagou por ela, uma vez que a comprou barato, e teve muitos anos. Só que por causa do problema do amianto a empresa perdeu os seus fundamentos e seu lucro e seu preço quase zero. Ele perdeu o timing de venda, foi o erro dele, quando a empresa apresentou teve o problema do amianto, e perdem os fundamentos, ele devia ter vendido e não mantido. Atualmente no preço em que está (quase zero) ela representa quase nada da carteira dele (percentual muito pequeno) e tão pouco dinheiro para ele que nem vale a pena vender mais no preço que está.
Esta é a minha visão do motivo porque ele investe nessas empresas.
Abraço e bons investimentos.
Obrigado por compartilhar sua visão dessas 3 empresas. A KLBN já estudei várias vezes. Gosto do case, é uma empresa centenária. O que não gosto nela é esse vai e vem do Lucro e como você disse por causa do ciclo dela. Outra coisa que não gosto é da dívida. Sei que é normal para ela. Mas essa alta variação do lucro e alta dívida não a faz entrar nos meus parâmetros. Como sigo à risca para deixar de fora a parte emocional, ela acaba ficando de fora também. Mas concordo que é uma boa empresa.
Uma dúvida que fiquei agora que você comentou. O efeito da ciclicidade é visto apenas no Lucro Líquido e não afeta o EBIT e EBITDA? Esse efeito é visto apenas no resultado financeiro? Ou é somente na Klabin por causa do dólar que esse efeito não afeta o EBIT/EBITDA? Se esta premissa for verdadeira as siderúrgicas/mineradoras devem ter o EBIT/EBITDA constantes e crescentes também. Uma questão a pesquisar aqui…
Quanto à ETER e UNIP obrigado por esclarecer sobre o investimento do Barsi. A questão da ETER realmente ele deu bobeira. Perdeu fundamento tem que desfazer sem dó (ou deixar quieta na carteira, sem novos aportes). Já a UNIP gostaria de saber como ele descobre empresas quando ninguém ainda as viu (pode ser turnaround, aí eu estaria fora também…)