Algumas pessoas solicitaram estudos com um prazo maior. Portanto, resolvi pegar duas boas empresas (creio que não há dúvidas quanto à qualidade das duas escolhidas) e realizar um estudo de longo prazo (10 anos), considerando os dividendos distribuídos em ambas.
Para melhorar e ainda verificar a performance das empresas fiz três conjuntos de estudos: um com aporte mensal, outro sem aporte mensal (apenas com o aporte inicial) e outro com reserva de oportunidade e aportes anuais no menor valor da ação no ano.
Creio que estas abordagens darão algumas diretivas em relação a questões normalmente enfrentadas pelos investidores:
a) Reserva de Oportunidade x Aportes Mensais
b) Ações de Crescimento x Ações de Dividendos
OBJETIVO
Este estudo é não acadêmico e tem a finalidade apenas de verificar o desempenho de ações aleatórias durante um prazo de 10 anos.
O objetivo é identificar a melhor estratégia para a geração de um bom patrimônio no longo prazo, considerando sempre a premissa da escolha de boas empresas (empresas de qualidade, com bons fundamentos).
PREMISSAS
O estudo utilizou a ferramenta R para extração das cotações mensais ajustadas de duas ações (LREN3 e EGIE3) durante o período de 01/01/2010 a 15/05/2020.
Os proventos foram coletados diretamente dos sites de Relacionamento com Investidores das duas empresas e foram ajustados de acordo com os desdobramentos, quando foi o caso.
ESTUDO A – APORTES MENSAIS
O valor inicial de aporte foi de R$ 10.000 para cada ação. A cada mês foi aportado R$ 2.000 comprando as ações pelo preço que se encontravam ao fim do mês. Os dividendos recebidos em um mês eram aplicados no mês seguinte juntamente com o aporte daquele mês.
A tabela acima mostra o resultado final deste estudo.
Algumas conclusões podem ser verificadas:
a) O valor patrimonial final foi muito superior aos aportes mensais, chegando a mais de 4 vezes este valor aportado;
b) O retorno acumulado em 10 anos foi de mais de 4 vezes o valor aportado, de acordo com o item a);
c) O número de ações aumentou consideravelmente em ambas empresas;
d) Apesar do montante de dividendos distribuídos ser 3 vezes maior na EGIE3, seu patrimônio final foi um pouco menor que o da LREN;
e) Apesar de não constar na tabela acima, a LREN distribuiria no ano de 2020 R$ 13.500 em dividendos (pouco mais de R$ 1.000 por mês) gerando um Yield on Cost de 5% a.a.; já a EGIE3 distribuiria cerca de R$ 35.000 (cerca de R$ 3.000 por mês) gerando um Yield on Cost de cerca de 14% a.a.
Conclusão: a ação de dividendos (EGIE3) consegue gerar uma renda mensal de maior porte. Já a ação de crescimento (LREN3) gera um valor patrimonial maior.
Aqui podemos ter vários tipos de investidores. Num prazo de apenas 10 anos podemos ter investidores que ainda estão na fase de acumulação de patrimônio. Neste caso, LREN se encaixaria melhor. Para investidores mais velhos talvez 10 anos seja um limitador de tempo e, neste caso, EGIE já se encaixaria melhor, gerando uma renda mensal confortável.
O estudo considerou o investimento em apenas uma ação. É claro que na vida real devemos diversificar e, com certeza, em mais de duas ações. Mas o estudo serve de guia para o investidor e o ideal, na minha opinião pessoal, seria ter os dois tipos de ações: crescimento e dividendos.
Desta forma, o valor patrimonial seria ligeiramente menor que aquele de LREN3, mas também ficaria um pouco acima de EGIE3. O valor final não seria ruim! E os dividendos também seriam algo entre R$ 1.000 e R$ 3.000 (talvez uns R$ 2.000?)
ESTUDO B – RESERVA DE OPORTUNIDADE
Neste segundo estudo iniciamos com R$ 10.000 de aporte comprando a mesma quantidade de ações do Estudo A.
Foi realizado um aporte anual no mês cujo valor de fechamento mensal foi o menor daquele ano (sim, o cara tinha bola de cristal e previa qual mês daquele ano teria o menor valor da ação!)
A cada mês era reservado o valor de R$ 2.000 como reserva de oportunidade. Teve ano que o aporte foi realizado em janeiro e somente aportou novamente em setembro do ano seguinte, acumulando muito dinheiro para o aporte (e perdendo muito dividendo por não comprar neste período).
Os dividendos foram reinvestidos no mês seguinte ao seu recebimento e não compuseram a reserva de oportunidade.
Aqui já registro uma autocrítica. Nos anos anteriores nossa SELIC era significativa. Teve ocasião que o aporte demorou 15, 20 meses. Eu NÃO corrigi esses valores pela SELIC! Deveria ter feito e admito que foi uma falha. Portanto, o resultado deste estudo poderia ser um pouco maior. Considere isto quando for ver o resultado, os números e o gráfico!
A tabela acima mostra o resultado do investimento com a reserva de oportunidade.
Verificamos que a ação de crescimento teve um valor patrimonial final bem superior à ação de dividendos.
A política de distribuição de uma vez ao ano da LREN não afetou sua distribuição de dividendos. A quantidade de ações da LREN foi ligeiramente superior ao Estudo A gerando um patrimônio final também ligeiramente superior ao Estudo A. Portanto, para ações de crescimento com distribuição anual de dividendos a estratégia da reserva de oportunidade se mostrou ligeiramente melhor, com uma única ressalva: o investidor teria que prever em janeiro em qual mês daquele ano seria o menor valor daquela ação.
Já sobre a EGIE vemos claramente que a estratégia de reserva de oportunidade não se mostrou eficiente, reduziu muito o patrimônio final e a quantidade de ações. Neste caso, é melhor aportar mensalmente independentemente do preço do aporte. Buscar acertar o timing não se mostrou eficaz!
Para mim creio que fica claro por este estudo que a reserva de oportunidade, conforme condições estabelecidas neste estudo, não se mostrou mais eficiente do que os aportes mensais. Isto vai no mesmo sentido que diversos outros estudos já realizados. Um que eu gosto muito de citar é ESTE.
Desta forma, eu ainda continuo adepto ao aporte regular mensal ao invés de fazer caixa e tentar prever o futuro.
ESTUDO C – APENAS INVESTIMENTO INICIAL
O terceiro estudo demonstra o resultado a longo prazo de um investimento único, sem novos aportes durante o tempo.
Foi efetuado um único aporte de R$ 10.000 e os dividendos foram reinvestidos no mês seguinte ao seu recebimento.
Neste caso, verificamos que a ação de crescimento se destaca com o maior valor de mercado e um retorno demais de 20 vezes o investimento inicial.
Já a ação de dividendos teve seu resultado afetado pela falta de aportes. Apesar de crescer 13 vezes seu investimento inicial, sua performance não foi tão boa quanto a LREN.
Entretanto, qualquer dos dois investimentos foram bons. Se compararmos com o IBOV então… O IBOV teve apenas 12% de crescimento em 10 anos. Ou seja, em 2010 ele estava praticamente na mesma pontuação de hoje.
GRÁFICO E DISCUSSÃO FINAL
Abaixo está um gráfico com o valor patrimonial acumulado durante os 10 anos para os seis tipos de aportes e para o IBOV (como referência).
Vemos pelo gráfico que o patrimônio da LREN tanto pelo método do aporte mensal quanto do método da reserva de oportunidade tiveram os melhores desempenhos (as duas linhas andam praticamente juntas). Perceba também que as quedas são mais bruscas do que a EGIE. No período atual os valores patrimoniais de LREN estão ligeiramente acima de EGIE.
Pelo gráfico também podemos perceber que a estratégia de aporte único inicial, apesar de se transformar num ótimo investimento a longo prazo, fica bem aquém da estratégia de aportes regulares/reserva de oportunidade.
O investimento em EGIE tem uma ascensão mais regular, com menos oscilação e suas quedas são menos sentidas do que LREN. Para investidores mais conservadores talvez seja uma opção mais tranquila de investimento.
As ações aqui estudadas não são recomendação de compra. Foram utilizadas apenas para fins educacionais devido à sua longevidade na bolsa e na sua consistência de fundamentos.
A polêmica entre ações de crescimento e de dividendos é grande entre os investidores. A busca de conhecimento gera sempre mais dúvidas que tendem a ser resolvidas com muito debate e muitos testes do tipo deste estudo. É claro que não foram (e nem conseguiria) abordadas todas as variáveis envolvidas. Este não é um estudo profissional nem acadêmico. É apenas a expressão de um investidor à procura de respostas diante das mais diversas estratégias existentes no vasto mundo da renda variável.
Quando não há destaque para uma das estratégias o ideal é assumir uma posição balanceada entre as duas estratégias estudadas. Portanto, do meu ponto de vista, o ideal é ter os dois tipos de investimentos no início da vida de investidor. No decorrer do tempo, pouco antes do período de usufruição talvez seja útil priorizar ações de dividendos em detrimento do crescimento patrimonial. Assim, tenta-se garantir uma renda passiva mais consistente.
Espero ter ajudado no desenvolvimento do investidor iniciante. Estude os temas aqui propostos e tome sua posição baseado na literatura e nos estudos.
Abraço e até o próximo artigo!
ótimo artigo, interessantes abordagens e idéias, parabéns!
Obrigado pelo comentário. Que bom que gostou!
Top …sias pesquisas são.realme te muito boas….mas como eu faço para saber quando a empresa é de crescimento e quando é de dividendo além dessas duas citadas acima???
Obrigado pelo comentário.
De forma muito resumida, empresas de dividendos tem a distribuição da maior parte do lucro líquido em dividendos, enquanto empresas de crescimento retem mais o lucro para investir na própria empresa. O indicador que reflete isto é o Payout (Dividendos / Lucro Líquido). Se ele for maior que 60% considero uma empresa de dividendos. Abaixo de 40%, considero uma empresa de crescimento. Entre 40 e 60% considero uma empresa híbrida. São classificações pessoais, não há uma regra definida.